Por Pablo Lima*
O recente episódio de impunidade no caso do general da ativa que, pouco após deixar o singelo cargo de Ministro da Saúde (sem qualquer experiência nessa área), participou de um comício político ao lado do presidente da república – algo que é proibido pelo regulamento das forças armadas e do serviço público, além de desrespeitar as atuais normas sanitárias em vigor contra a Covid19 – foi considerado, pela grande mídia, como mais um atestado de subserviência do Exército a Bolsonaro. Circularam comentários de analistas políticos de que o exército teria se curvado diante do presidente; de que a atitude do comando do exército manchava o histórico da instituição e que abria um precedente perigoso, quase um incentivo à participação de militares na política partidária.
Essa não foi a primeira vez que o exército, aos olhos de muitos jornalistas, pensadores, blogueiros e youtubers, fez vistas grossas às atitudes ilegais e anti-republicanas do Bozo. Desde os primeiros dias do atual governo, o presidente tem feito declarações polêmicas e tomado atitudes extremistas em relação ao exército. As inúmeras ameaças de golpe à democracia já nem causam mais espanto nas suas falas. Como a de janeiro deste ano, quando disse que quem decide se o país vive ou não uma democracia são as forças armadas. Nem nos chocamos mais com a sua participação em atos públicos nos quais seus apoiadores exibem orgulhosamente faixas defendendo o fechamento do STF e uma “intervenção” (leia-se: golpe) militar.
Interessante que o exército jamais se pronunciou contra as bravatas do capitão cloroquina. Nunca contestou suas falas. Sempre manteve um silêncio constrangedor. No máximo, o vice-presidente general faz alguma ponderação, muitas vezes justificando ou defendendo a mesma perspectiva do presidente capitão e, depois, fica tudo por isso mesmo. Na atual CPI da pandemia, o ex-ministro da saúde-general afirmou que temos dois presidentes: um “extra-oficial” para a internet e redes sociais que fala pelo governo; e outro, “oficial”, que realmente comanda o governo internamente.
Com essa declaração, o general “Guerrazuello” deixou bem claro: quem manda não é aquela aberração delirante, golpista e genocida, aquele poço de burrice e sadismo que atende pelo nome de Jair Bolsonaro. Esse é só espantalho pois, o fazendeiro, quem manda mesmo, é o exército. E não digo que são as forças armadas, porque, na realidade, a marinha (80 mil integrantes) e a aeronáutica (75 mil integrantes) são forças praticamente subordinadas ao exército (220 mil integrantes).
Por mais que não queiramos acreditar, em 2016 o Brasil sofreu um Golpe, sim, inclusive com uma dimensão militar, pois na sua base estava já o Bolsonarismo. A fala do Bozo da votação do impeachment deixou claro quem ele representava: o golpismo militarizado. Em 2018, a eleição foi manipulada, sim: Lula foi preso injustamente e retirado da corrida eleitoral (apesar de o país ter precedentes de candidatos presos poderem participar de eleições, como o caso do ex-prefeito de Unaí, MG, condenado pelo assassinato de fiscais do ministério do trabalho, eleito de dentro da cela), abrindo espaço para a vitória de Bolsonaro. Seu governo é uma ditadura militar, sim, com um aumento da violência policial, da censura e episódios cotidianos de perseguição aos seus opositores, como o professor preso em Goiás por ter um adesivo escrito “Bolsonaro Genocida” em seu automóvel.
Analisando esse conjunto de absurdos de maneira racional, ao invés de considerar que o exército esteja subordinado ao Bozo, insatisfeito, mas calado, de certa maneira em respeito à hierarquia constitucional, que prevê que comandante supremo é o presidente, trata-se do contrário: Bolsonaro não passa de um porta-voz; quem governa o Brasil é o próprio exército. O Bozo e sua gangue foram projetados e são defendidos pelas Forças Armadas, desde os soldados de baixa-patente até o alto comando. Suas falas são chanceladas pelo exército pois refletem o pensamento militar. A recente mudança no ministério da defesa e do alto-comando das forças armadas não partiu de Bolsonaro. Ele é apenas o fantoche cuja trajetória tão abjeta o habilita a representar publicamente o fascismo e o próprio mal. Para quem comemora a tortura e acha que a ditadura matou pouco, o que seria melhor que uma pandemia para matar logo meio milhão de brasileiros?
O fato do atual ministro da defesa, General Braga Neto, ter ordenado e defendido a comemoração do Golpe de 1964 e a ditadura militar, terrorista e assassina (1964-1989), é revelador: o exército de hoje é o mesmo que derrubou um presidente eleito e tomou o poder pelas armas há 57 anos atrás. É o mesmo que tomou o poder pelas armas em 1930, iniciando a Ditadura Vargas. Instituição que surgiu em função da Guerra do Paraguai (1864-1870), o exército brasileiro tornou-se no século XIX, ao lado a Igreja Católica, uma das poucas organizações de dimensão nacional. Desde 1889, com o golpe que derrubou a monarquia de Pedro II, o exército tornou-se o fiador do Estado brasileiro.
Quando Bolsonaro diz que é o exército que decide se vivemos em uma democracia ou ditadura, ele não está exagerando. No Brasil, tem sido assim nos últimos 130 anos. Hoje, em 2021, quem governa o Brasil é exército, para quem, sem dúvida, Bolsonaro é importante. É porta-voz moldado ao longo de décadas para que o exército conseguisse alcançar o executivo federal por meio de eleições e com uma base de apoio popular, que ainda chega a cerca de 30 milhões de brasileiros. Essa base é composta pelas classe proprietárias, os grandes latifundiários, e também por parcelas consideráveis das classes subalternas, massas de evangélicos e o próprio setor militar.
Porém, somos mais de 210 milhões! Um sétimo da população, mal informada, composta pelos poucos que se beneficiam da crise em que vivemos, não pode definir nosso destino enquanto nação. Cabe à classe trabalhadora (operários da indústria, trabalhadores do campo, funcionários públicos, trabalhadores do comércio, prestadores de serviço, professores, profissionais da saúde, trabalhadores informais, etc., aposentados e desempregados) organizar-se junto aos mais diversos movimentos sociais (movimento feminista, movimento negro, movimento LGBGTI+, movimento estudantil, movimento sindical) e lutar contra essa ditadura militar mal-disfarçada que nos oprime. Juntos podemos mudar a história do Brasil, construindo um Estado soberano, democrático e uma sociedade socialista, fundada no Poder Popular!
Fora Bolsonaro e Mourão!
Abaixo a Ditadura!
Por um Brasil Socialista!
*Pablo Lima é historiador e membro do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro (PCB)