Renata Regina*

Nesse processo muitas pessoas têm me perguntado coisas curiosas sobre Doulas e fico muito feliz em poder falar sobre isso para cada vez mais pessoas!Então vamos lá, o texto ficou maior do que eu pretendia mas, se a ideia é informar, não dá para resumir demais certas coisas… então, bora lá!

Doulas são mulheres que oferecem suporte informativo, físico e emocional a gestantes ao longo de toda gestação, parto e puerpério.

Doulas não são parteiras. Não substituímos nenhum profissional da assistência ao parto. Viemos para somar a equipe multidisciplinar. Não realizamos procedimentos técnicos ou intervenções.

O foco do nosso trabalho é o bem estar e conforto, físico e emocional das mulheres, o que significa, também, procurar garantir que os desejos e direitos das mulheres sejam respeitados e que elas sejam as protagonistas nesse momento tão importante de nossas vidas. Estudos mostram que o suporte continuo de uma Doula reduz a necessidade de intervenções e aumenta os desfechos positivos de parto com mulheres e bebês bem seguros e a satisfação da mulher com a experiência parto, entre vários outros benefícios.

Por isso, também, a Doula é uma importante agente de transformação político e social. Lutamos pelo fim da violência obstétrica e pela promoção do cuidado à saúde da mulher, centralizado nas necessidades de cada uma e fundamentado em evidências científicas para garantir à mãe e à criança uma assistência segura, com o mínimo de intervenções. Temos muitas lutas e desafios nesse processo de conquista do respeito à autonomia e dignidade das mulheres. Vivemos um contexto obstétrico extremamente violento, que desrespeita e coloca em risco a vida das mulheres, que estabelece uma relação injusta e desproporcional entre as mulheres e os profissionais da saúde e cria impedimentos para a nossa atuação, seja tentando nos impedir de acompanhar as mulheres nas instituições, seja com praticas rotineiras intervencionistas muitas vezes violentas e desnecessárias. Transformar esse cenário é uma necessidade urgente e fazemos isso tanto através da nossa atuação na assistência as mulheres como na luta contra a violência obstétrica, por uma legislação e políticas publicas que garantam às mulheres condições dignas e seguras de parto e, assim, temos conseguindo avançar passo a passo para uma assistência humanizada.

Nosso campo de luta não é a sala de parto. Por vezes nosso trabalho nesse espaço se assemelha a uma redução de danos quando, em contextos extremamente adversos, procuramos contribuir para experiências de parto mais positivas e menos traumáticas.

Não queremos te convencer a ter um parto normal ou fazer determinadas escolhas. Oferecemos companhia, auxilio, acompanhamos as mulheres nessa caminhada intensa de gestar e parir, escutamos, compartilhamos informações de qualidade, de fontes confiáveis, baseadas em evidencias cientificas, ajudamos a elaborar um plano de parto, tranquilizamos, ajudamos a criar um ambiente acolhedor, a lidar com a dor, orientamos e oferecemos posições, massagens e outros métodos não-farmacológicos de alívio da dor, estimulamos e encorajamos, procuramos construir com as gestantes, a melhor experiência possível considerando os desejos e especificidades de cada mulher.

Resultado da nossa mobilização, a profissão da Doula foi reconhecida e incluída na CBO (Classificação Brasileira de Ocupações) em 2013 e estamos agora em processo de regulamentação da profissão. Estou comprometida para que esse processo de regulamentação conte com ampla participação das mulheres e que considere cada especificidade desse nosso Brasil, que é imenso, e possui realidades diversas.

Também resultado da nossa mobilização em defesa dos direitos das mulheres temos, em Belo Horizonte e em várias cidades e estados do país, leis que garantem à mulher o direito ao acompanhamento de uma Doula durante todo o trabalho em todas as instituições sem prejuízo do acompanhante de sua escolha como já previsto na lei do acompanhante.

Doula não faz parto, faz parte!

Chega de parto violento para vender cesariana!

“Se a Doula fosse um remédio seria antiético não receitar” – John H. Kennell

* Renata Regina é militante do PCB, do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro, e candidata a Deputada Federal em Minas Gerais pelo PCB, número 2180.