Explosão de gasômetro da Usiminas fere mais de 30 trabalhadores. Um operário é atropelado ao sair da siderúrgica. A cidade vive pânico com medo de novas explosões. O povo tem o direito de saber o risco que corre!

A Usiminas era estatal. Em 24 de outubro, de 1991, foi vendida à iniciativa privada pelo presidente Fernando Collor, como parte de um agressivo programa de privatizações, peça do desmonte neoliberal do Estado brasileiro, projeto levado à frente por governos que o sucederam. Os tempos das relações de trabalho desregulamentadas, selvagens, e da produção pela produção, chegaram. Tempo do cumprimento de metas produtivas, sob fortes pressões e intensos riscos. Tempo das terceirizações sem limites, de desqualificação da mão-de-obra e de condições de produção e trabalho cada vez mais precárias.

Com a grande crise do capitalismo mundial, desde 2008, a Usiminas, progressivamente, terceiriza suas atividades, passando a deslocar, grande parte de seu efetivo para as empreiteiras, onde os trabalhadores vão encontrar as mesmas, ou até mesmo piores, condições de produção e trabalho, falta de treinamento, falta de equipamentos e segurança no trabalho.

De 2012 a 2014, a Usiminas fez demissões em massa. As transferências da forca de trabalho da Usina para as empreiteiras se intensificam. As justificativas para as demissões, sempre as mesmas: crises financeiras, crises econômicas. Enquanto isso, as empreiteiras contratavam num processo combinado (uma demite, outra contrata) de transferência de empregados da Usiminas para fazerem o mesmo trabalho, exercerem as mesmas funções, com menores salários e menos direitos, em terceirizadas.

Com as terceirizações, articula-se uma estratégia de enfraquecimento da organização dos trabalhadores, na fábrica e no Sindicato. Aliam-se patrões e pelegos numa evidente tentativa da empresa de esvaziar e enfraquecer o SINDIPA- Sindicato dos Metalúrgicos de Ipatinga e Região, com manobras de deslocamento de filiados para a base de outros sindicatos e, até mesmo, criação de novas entidades, por exemplo. O propósito, fragilizar os trabalhadores minando sua organização e capacidade de resistência, e facilitar que a empresa e as empreiteiras imponham as piores condições de trabalho, intensificando a exploração de seus trabalhadores e trabalhadoras.

No último dia 8 de agosto, ocorreu um acidente fatal na planta da Usiminas. Uma trabalhador perdeu a vida: Luis Fernando Pereira, 38 anos, empregado da empreiteira AMOI, prestadora de serviços de manutenção para a Usiminas, um metalúrgico que se foi e deixou esposa e três filhos.

Dois dias depois, quase uma tragédia de proporções dramáticas. No dia 10 de agosto, explode um gasômetro da Siderúrgica. O impacto foi sentido com relativa gravidade em diversos bairros e no centro da Cidade. Parecia um terremoto, testemunham moradores. Vidros quebrados, pessoas feridas com estilhaços. Mais de 32 vítimas foram levadas para o Hospital Márcio Cunha. Até agora, os informes não dão conta de vítima fatal dentro da Usina. Alguns feridos de maior gravidade. Um operário que estava de bicicleta largou o serviço, ajudou a organizar a saída dos trabalhadores e das trabalhadoras em pânico foi atropelado no bairro Cariru em Ipatinga, foi socorrido ao hospital, mas não resistiu ao impacto e faleceu.

Depoimentos falam de um grande pânico, no momento do acidente. Pessoas desorientadas, sem saber como se comportar em situações de urgências e emergências. Evidente o despreparo da empresa para lidar com situações graves de acidente. Enquanto isso, a população não teve nenhuma orientação adequada, sempre a espera de iniciativas de evacuação, a seguir desmentidas. População desorientada, a gravidade se agrava nos boatos e rumores.

“TEMOS DIREITO DE SABER O RISCO QUE ESTAMOS CORRENDO”, EXIGEM OS MORADORES DE IPATINGA

A história da Usiminas possui muitas zonas sombreadas, onde não se sabe a morada da verdade. O episódio mais eloqüente é o do histórico massacre de trabalhadores de 7 de outubro de 1963. Até hoje não se abriram os arquivos da empresa, não se recompôs a verdade. Isto, mais a forma como os históricos de acidentes graves na área da empresa são montados. Quando os operários morrem, dizem que faleceram a caminho ou no hospital, jamais dentro da empresa.

Some-se, também, a tudo isso, o absurdo fato de os Dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos terem sido impedidos de acompanhar o trabalho de resgate e socorro das vítimas, e temos todas as razões para colocarmos em dúvida a transparência e as informações prestadas pela Siderúrgica.

A explosão do gasômetro denuncia e serve de alerta. Denuncia que a cidade de Ipatinga está abraçada a uma bomba e precisa saber o risco que corre. E nos alerta para a necessidade de uma investigação, transparente, até as últimas conseqüências para evitarmos tragédias anunciadas.

Que seja constituída, imediatamente, uma comissão de investigação com representantes da Usiminas, da Prefeitura, do Ministério Público, da Câmara de Vereadores, do Sindicato dos Metalúrgicos e da OAB. Os moradores de Ipatinga têm direito de saber o risco que correm.

Vale Do Aço, 11 de agosto de 2018
Frente de Esquerda Ipatinga Socialista
PCB-PSOL-BRIGADAS POPULARES-UNIDADE CLASSISTA