Combate Ao Fascismo Nas Escolas
“Quem não se movimenta, não sente as correntes que o prende.”
ROSA LUXEMBURGO
“O fascismo apenas pode ser combatido como capitalismo, como a forma de capitalismo mais nua, sem vergonha, mais opressiva e mais traiçoeira.”
BERTOLT BRECHT
Em 23 de agosto de 2022, um adolescente de 14 anos foi apreendido em Governador Valadares – MG por planejar um massacre em sua escola.
Meses depois, em 25 de novembro, um adolescente de 16 anos, usando uma braçadeira com a suástica nazista, invadiu duas escolas na cidade de Aracruz – ES, assassinando 3 professoras, 1 aluna e deixando 12 feridos.
Poucos dias depois, a Escola Municipal José Silvino Diniz, em Contagem – MG, teve suas aulas suspensas ao amanhecer com pichações nazistas, o refeitório e uma exposição do Dia da Consciência Negra destruídos.
Há cerca de um mês, um ex-aluno de uma escola de ensino infantil e fundamental de Monte Mor – SP lançou uma bomba caseira pela janela da instituição, que felizmente não gerou vítimas. O adolescente de 17 anos também usava uma braçadeira nazista.
A ocorrência desses casos — que têm a ideologia fascista como motivação e não ocorrem de forma isolada —, evidencia a inserção e o crescimento do nazifascismo nas escolas e na sociedade brasileira.
A conjuntura atual exprime os elementos colocados pela crise da sociabilidade burguesa e a decorrente ascensão da extrema direita e do neofascismo. Associado a crise econômica que aumenta a exploração e a miséria na classe trabalhadora, no Brasil enfrentamos, às duras penas, a escalada da repressão à nossa população, e particularmente aos setores mais oprimidos. Uma conjuntura marcada pelo acirramento do desmonte público e da perda de direitos, pelo acirramento do anticomunismo, e pelo acirramento da perseguição e criminalização dos movimentos sociais e da esquerda organizada.
As escolas, como não poderia ser diferente, também são palco de todas essas contradições de nossa conjuntura. Mais ainda do que palco, a escola é um local privilegiado da disputa pela fascistização do Brasil, basta ver que todas as tendências reacionárias que afloraram com maior força com a eleição de Jair Bolsonaro em 2018 já estavam presentes e vinham ganhando cada vez mais espaço na juventude a muito mais tempo.
A forte presença de tendências ultraliberais e masculinistas em espaços virtuais ocupados pela juventude nos últimos anos tem relação direta com esses casos. Movimentações como as de ANCAPs e INCELs e ideologias que pregam uma estratificação biologizante entre homens “alfa” e “beta”, assim como a submissão da mulher ao homem, introduzem parcelas da juventude à ideologia fascista. A presença de algumas organizações ultraliberais, que ostentam as cores e símbolos anarcocapitalistas, em espaços do movimento estudantil, evidencia o nível organizativo desse campo que busca se infiltrar nas entidades estudantis. Devemos denunciar firmemente a ligação dessas organizações com os movimentos fascistas e sua aliança de longa data com a expressão predominante do fascismo brasileiro hoje, o bolsonarismo.
Na verdade, a ofensiva burguesa que desencadeia a ascensão fascista atinge as escolas de várias formas. Dentre elas vale destacar: a precarização das escolas, do ensino e do trabalho docente; a militarização das escolas e todas suas consequências; o movimento escola sem partido e o assédio político e moral generalizado; avanço do discurso de ódio contra as minorias; e ainda o Novo Ensino Médio que, já desde o governo Temer, expressa a tentativa de esterilizar o pensamento crítico nas escolas e mais uma rodada precarização do trabalho docente, além de aumentar a desigualdade entre as escola particulares e públicas no acesso às Universidade Federais; e, não menos importante, as manifestações mais diretas e abertas do fascismo como pixações de símbolos e palavras de ordem nazistas, e casos de atentados neo-nazistas.
A tendência de crescimento do fascismo em meio à juventude tem o potencial de intensificação com a implementação do Novo Ensino Médio. A retirada da obrigatoriedade das disciplinas de ciências humanas, como história e sociologia, reflete uma política que busca obscurecer as relações sociais que se dão no cotidiano da vida do estudante, mantendo o ciclo de exploração da força de trabalho inalterado, esvaziando o ambiente escolar de uma perspectiva crítica e proporcionando a perpetuação de um modo de vida alienante. A revogação do Novo Ensino Médio é uma pauta central no combate ao fascismo no seio da juventude. Devemos avançar nessa luta e ir além, pautando que a educação pública abandone a lógica tecnicista de formação barata de força de trabalho, que é empurrada não só pela burguesia nacional através de institutos como o Todos Pela Educação, Fundação Lemann, Itaú Educação e o Instituto Unibanco, mas também pela burguesia monopolista dos países imperialistas a partir do Banco Mundial, que condiciona empréstimos ao Brasil à implementação do NEM.
A educação no capitalismo é um campo estratégico para a disputa, pois nela coexistem a funcionalidade com relação a formação do perfil técnico e cognitivo de trabalhadores e a fomentação da ideologia dominante, fechando-se qualquer possibilidade de ensino que ultrapasse as demandas do mercado de trabalho ou vise a emancipação humana. A construção de grêmios é uma ferramenta essencial nesse processo, possibilitando que estudantes se organizem e debatam sua realidade no interior da escola, abrindo portas para a articulação das lutas em âmbito municipal, estadual, nacional e internacional. É papel dos jovens comunistas dentro das escolas garantir que as lutas locais não se encerrem em si mesmas, mas sim se elevem à luta geral por uma escola popular e uma sociedade livre da exploração e da opressão.
Na realidade, a construção de grêmios são de suma importância para que o processo de neoliberalização do projeto político escolar seja interrompido, para que os casos acima citados não aconteçam mais. A capacidade de politização e representação dos estudantes em toda a sua diversidade, no Brasil, se demonstra tradicionalmente capaz de fazer frente com os maiores inimigos da classe trabalhadora, através da luta.
Historicamente sabemos como o liberalismo lidou com os movimentos fascistas, comendo na mesma mesa, depois escondendo eles embaixo da sua saia. Vemos novamente as mesmas ações se repetindo, e temos que lembrar a quem coube vencer os fascistas em 1945, assim como nas suas outras expressões no decorrer da história. Entendemos que embora tenhamos conseguido derrotar Bolsonaro nas urnas, deve ser tarefa dos comunistas dar cabo do combate aos grupos e ideias fascistas, combate que deve ser feito com independência de classe e com a melhor qualidade e organização possível nos nossos locais de atuação. É necessário a organização e formação de grêmios combativos que consigam mobilizar os estudantes contra as reformas ainda em andamento, e que lutem pela formação de espaços de debate e politização, formulando espaços abertos de combate às opressões, no sentido da escola popular.
Nota Política da Coordenação Estadual da União da Juventude Comunista Minas Gerais