Pablo Lima* para o Poder Popular MG
Belo Horizonte, 21/01/21 – As primeira três semanas de janeiro já deram o tom de como será o ano: violência, confusão e muita necessidade de luta!
A invasão ao congresso dos EUA e a posse de Biden: tudo muda para continuar tudo como está
Para começar o ano, o ex-presidente Donald Trump, incapaz de reconhecer sua derrota nas urnas, incitou uma multidão de apoiadores fanáticos, composta por racistas e fascistas, a invadir o Capitólio e tentar impedir a sessão do colégio eleitoral que confirmaria a consulta à população de lá (afinal, a verdadeira eleição nos EUA é indireta). Esse episódio teve análises completamente díspares. Alguns viram ali uma tentativa de Golpe de Estado, reflexo da força do setor trumpista; enquanto outros avaliaram que aquilo representou o desespero e estrebuchamento final dos derrotados. Quando o mesmo acontecimento histórico leva a análises opostas, é sinal de que não está fácil compreender a atual conjuntura. Apesar da conivência das forças de segurança de Washington, que posaram para selfies com os delinquentes invasores, até o momento, mais de 200 pessoas foram presas.
No dia de ontem, ocorreu a posse de Joe Biden e Kamala Harris na presidência dos EUA. Pela primeira vez na história, a cerimônia não contou com a participação popular, em uma Washington fechada devido à pandemia e, principalmente, às ameaças de manifestações dos trumpistas. Uma multidão de bandeiras americanas ocupou o Mall (a “esplanada” da capital yankee), substituindo as pessoas que, a cada quatro anos, costumavam acompanhar a posse de perto. E, iniciando seu mandato, Biden declarou que manterá o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel (ao invés de Tel Aviv), algo que era um dos símbolos concretos da política externa de Trump. Muda o presidente, mas a política externa dos EUA continua a mesma…
Bolsonaro se isola no cenário internacional e reforça o discurso golpista
Com a derrota de Trump, Bolsonaro fica isolado. Não reconheceu prontamente a vitória de Biden, fazendo coro às acusações infundadas de fraude feitas pelo derrotado Trump em relação à eleição nos EUA, prejudicando as relações com o novo governo estado-unidense. O Ministério das Relações Exteriores, aparelhado pela extrema direita fanática, realiza uma política anti-diplomática, insultando a China, principal parceiro comercial do Brasil, e provocando uma crise sem precedentes na relação entre os dois países. O Brasil é dependente de insumos importados da China para a fabricação das vacinas contra a Covid19 mas, devido à incompetência da diplomacia brasileira, nosso país não tem conseguido receber o fornecimento necessário das matérias-primas para a vacina por parte maior potência asiática. A Índia, por sua vez, um dos maiores fabricantes e exportadores de vacinas, também deixou o Brasil fora da lista de países que receberam as mesmas, apesar de uma suposta tentativa do governo Bolsonaro de negociar com esse país.
Claramente isolado e com uma queda em sua popularidade, o asno que ocupa a presidência da república declarou que quem decide se um país vive a democracia ou a ditadura são as forças armadas. O Estado Maior das forças armadas não se pronunciou, seguindo a máxima “quem cala, consente”. Isso se soma às ameaças bolsonaristas de que não reconhecerá uma possível derrota nas urnas em 2022, alegando que seria resultado de uma fraude no sistema eleitoral, conforme acusou o derrotado Trump em relação às eleições nos EUA. Ocorre que lá o voto é em papel, enquanto aqui, é eletrônico, o que invalida tal comparação. Mas essa obviedade não tem espaço na estupidez de Bolsonaro e seus seguidores.
Em Manaus, em meio ao caos, ficam proibidas as fotos da vacinação, enquanto em Montes Claros, prefeito fura a fila
A capital amazonense enfrenta um verdadeiro colapso de seu sistema de saúde pública e privada. Pessoas infectadas com Covid19 morrem sufocadas, sem oxigênio, nos hospitais lotados. Com a chegada desordenada de algumas doses da vacina, em um show de falta de logística por parte do Ministério da Saúde, ao invés de pessoas de grupos prioritários serem vacinados, empresários capitalistas e seus familiares passaram na frente da fila de prioridades e postaram fotos tomando a vacina em suas redes sociais. Após os protestos indignados da população contra esse despautério, o governador do Amazonas tomou a medida que considerou a mais necessária: proibiu fotos da vacinação. No dia de hoje, devido às acusações de desrespeito à fila de prioridades, a vacinação no maior estado brasileiro acabou sendo paralisada.
Já em Montes Claros, MG, o prefeito, do partido Cidadania, também furou a fila de vacinação, sem ser do grupo prioritário. Alegou que estava incentivando as pessoas a se vacinarem. Pelo jeito, não passou pela sua cabeça incentivar a população a respeitar a fila e as orientações dos órgãos de saúde competentes.
Enquanto isso, o PCB completa 99 anos e defende a retomada das lutas sociais no Brasil
Na véspera de seu centenário, o PCB, partido político mais longevo do Brasil, considera necessária a retomada das lutas sociais contra o governo Bolsonaro-Mourão e por uma campanha ampla de vacinação de toda a população. Para o PCB é necessário defender e valorizar o Sistema Único de Saúde (SUS), conquista histórica da população brasileira. Graças ao SUS e à saúde pública, o Instituto Butatã e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), conseguiram aprovar suas vacinas contra a Covid19, apesar do governo federal. Após minimizar a pandemia, o governo Bolsonaro passou a preconizar medicamentos sem qualquer eficácia contra a Covid19 (como a cloroquina) e, por fim, posicionou-se contra a vacinação da população.
Basta de ataques ao povo brasileiro e, em especial, à classe trabalhadora! As forças de esquerda brasileiras devem se organizar, dialogar entre si, e construir uma agenda de mobilização contra um governo negacionista, golpista e incompetente. Para isso, a população precisa ser vacinada o quanto antes. Não é por simples idiotice que o governo Bolsonaro é contra a vacina: trata-se de uma maneira de adiar a inevitável revolta popular contra as diversas crises que nos assolam, ao mesmo tempo: crise sanitária, econômica, política e social.
Fora Bolsonaro e Mourão! Pela retomada das lutas! Pelo Poder Popular! Pelo Socialismo!
*Pablo Lima é professor de História da UFMG e membro do Comitê Central do PCB
Crédito da imagem: Win McNamee/Getty Images
Realmente, Pablo!
As reflexões que você nos traz, sobre todos esses absurdos que vêm subvertendo os propósitos da Constituição Federal, de 1988, são grandes motivações para não desistirmos de fazer valer nossos direitos humanos dentro de uma sociedade realmente democrática e livre.
Acredito que isto é possível de acontecer.
No curso da história de lutas do PCB, em Belo Horizonte e Minas Gerais, existe a presença de duas mentes pensantes: Jô Morais e Paulão que, junto às significativas representações das minorias socialmente excluídas, se dedicaram a favor de uma sociedade mais justa e igualitária valorizando, inclusive, a importância da participação ativa da diversidade cultural dentro das pautas decisórias das políticas públicas.
Vejamos até que ponto:
…
suportaremos tanta inconsistência;
a estrutura do ‘humano’ ficará inerte diante do caos multifacetado.
…
Parabéns profº Pablo pela lucidez do texto e que possamos ter coragem para lutar contra esse governo.