Por Yan Victor, militante do PCB
Há exatamente 24 anos, Eldorado dos Carajás foi cenário de um dos capítulos mais selvagens da história da luta pela reforma agrária no Brasil. Enquanto o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) fazia um brinde de saquê na inauguração da segunda unidade da Cenibra, na mineira Belo Oriente, um grupo de 156 policiais militares das unidades de Marabá e Parauapebas em um ato de extermínio dispararam suas armas contra crianças, mulheres e homens membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Um crime contra a vida dos trabalhadores Sem Terra! Os policiais, além de tirarem as tarjas de identificação das fardas, executaram, oficialmente 19 Sem Terra e feriram 69 dos manifestantes que interrompiam o tráfego na rodovia PA-150, no Km 96, município de Eldorado dos Carajás. O grupo de aproximadamente1.200 trabalhadores rurais Sem Terra protestavam contra a medida de desapropriação da Fazenda Macaxeira – um complexo de 42 mil hectares.
As cicatrizes do massacre permanecem expostas nas famílias dos executados, nos corpos dos feridos e nos traumas dos sobreviventes. E seguiram marcadas na memória dos campesinatos do brasil. Ainda hoje o extermínio dos trabalhadores do campo, em suas muitas particularidades – quilombolas, camponeses, indígenas – segue sendo a toada do modo de produção do capital. Em 2017, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra, 71 trabalhadores foram assassinados em conflitos no campo. Número de maior registro desde 2003.
A violência no campo está diretamente ligada com um modo de produção econômico e político que concentra a propriedade, acumula riquezas em escala mundial e aprofunda desigualdades, sendo a expropriação e violência contra os trabalhadores do campo um exemplo de concretude. Dessa forma, cremos que a única saída para a guerra declarada contra às classes trabalhadoras – trabalhadores do campo e da cidade – passa inexoravelmente pela superação do capital e pela construção do Poder Popular.
Em memória dos trabalhadores(as) Sem Terra exterminados em Carajás e também em memória de todos trabalhadores(as) que constroem a história com suas próprias vidas. Terminamos esse texto com seus nomes, pois sabemos que suas lutas e vidas fecundam nossa caminhada!
“Revejo nessa hora tudo que ocorreu,
Memória não morrerá
Longe, ouço essa voz
Que o tempo não vai levar”!
Fernando Brant / Milton Nascimento
Altamiro Ricardo da Silva
42 anos, casado, goiano, lavrador
Graciano Olímpio de Souza
47 anos, casado, maranhense, lavrador
Oziel Alves Pereira
19 anos, solteiro, goiano, agricultor
Amâncio Rodrigues dos Santos
47 anos, solteiro, maranhense, agricultor
Raimundo Lopes Pereira
20 anos, solteiro, maranhense, borracheiro
Valdemir Pereira da Silva
23 anos, solteiro, goiano, agricultor
Antônio Alves da Cruz
59 anos, casado, piauiense, agricultor
Abílio Alves Rabelo
57 anos, casado, maranhense, agricultor
João Carneiro da Silva
38 anos, maranhense, garimpeiro
João Rodrigues Araújo
48 anos, casado, piauiense, agricultor
Robson Vitor Sobrinho
25 anos, casado, pernambucano, agricultor
Leonardo Batista de Almeida
46 anos, casado, maranhense, agricultor
José Ribamar Alves de Souza
22 anos, solteiro, maranhense, agricultor
Lourival da Costa Santana
25 anos, casado, maranhense, agricultor
Manoel Gomes de Souza
49 anos, casado, piauiense, agricultor
José Alves da Silva
65 anos, viúvo, goiano, agricultor
FONTES CONSULTADAS:
Artigo de jornal 1. TAKAHASHI, Luciene; MAGALHÃES, Beto. UM ANO DEPOIS, NADA MUDOU. Especial Hoje em Dia, 13 de abril de 1997, p. 1-8.
Artigo de Digital 1. Atlas da Questão Agrária Brasileira. Disponível em: http://www2.fct.unesp.br/nera/atlas/violencia.htm. [Acesso em: abril, 2020].
Artigo de Digital 2. Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Disponível em: https://mst.org.br/nossa-historia/96-2/. [Acesso em: abril, 2020].