Por Osvaldo Teodoro

No último domingo, dia 24 de julho de 2022, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) ratificou, na cidade de Betim – região metropolitana de Belo Horizonte – a candidatura de Renata Regina ao governo de Minas Gerais. Renata Regina possui uma história ligada organicamente com setores populares, é secretaria política do partido, integra a Coordenação Nacional do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro (CFCAM) e participou da Coordenação Nacional da União da Juventude Comunista (UJC). Como doula, luta de forma incessante pelo direito das mulheres ao parto humanizado. A candidata a vice-governadora é Tuani Guimarães, professora da rede estadual, sindicalista e uma das lideranças do Comitê Popular dos Atingidos pela Mineração em Itabira e Região. Nos últimos anos, o PCB também concorreu ao governo de Minas em 2010, com Fábio Bezerra, e em 2014, com Túlio Lopes.

Renata Regina, Sofia Manzano e Tuani Guimarães / Foto: Matheus Loureiro

Por um lado, é sabido por todos que se dedicam acerca da compreensão da dinâmica da sociedade dominada pelo capital os limites do processo eleitoral e, por conseguinte, do estado burguês, por outro lado, não é novidade para ninguém comprometido com as transformações sociais a importância de ocupar todas as trincheiras, entre elas as institucionais. A trajetória do PCB, que se confunde com a história da classe trabalhadora nos séculos XX e XXI no Brasil, é prova inconteste deste movimento. Prestes, Jorge Amado, Marighella, Gregório Bezerra, Neres e Lindolfo Hill – recentemente com o mandato restituído pela Câmara Municipal de Juiz de Fora – são alguns exemplos que reforçam essa necessidade.

Na tentativa de compreender a realidade, destacando a essencialidade de uma leitura ajustada da quadra política que nos encontramos, é verdade que no Brasil vivenciamos uma escalada do fascismo, das ameaças golpistas e no estado de Minas Gerais o projeto do atual governador, Romeu Zema do partido NOVO, é estrangular tudo aquilo que é público propiciando assim a transferência de recursos e a criação e/ou a ampliação de diferentes mercados para o setor privado.

Até então nada de novo, assusta-nos que parte das pessoas que afirmam se alinhar com pautas populares invoquem, como antídoto contra a sanha autoritária/neoliberal de Zema, o nome de Alexandre Kalil ao Governo de Minas Gerais. Não nos cabe aqui resgatar a nauseante trajetória de Kalil, basta-nos afirmar que o referido sujeito, bem como o Partido Social Democrático (PSD), nunca possuíram agenda mínima que contemplasse os interesses dos trabalhadores. Empresário, legítimo representante das classes dominantes, como prefeito de Belo Horizonte avançou na retirada de direitos dos trabalhadores.

Convenção Estadual do PCB-MG / Foto: Matheus Loureiro

À vista disso, como pode Kalil representar algum alento para os trabalhadores? Será a varinha mágica do Lula com as bençãos do Alckmin? Por óbvio, neste momento uma palavra nos ocorre de forma intensa, ou seja, a expressão gasta, mas não pouco usual: oportunismo. Não pretendemos aqui circunscrever a definição de oportunismo como carreirismos, vantagens pessoais ou coisas do tipo. Compreendemos a questão a partir de uma tradição revolucionária, isto é, na essencialidade, oportunismo é apanhado como sacrifício dos interesses permanentes do proletariado por interesses fugazes e temporários. O que interessa de forma ininterrupta para os trabalhadores: barrar os avanços da barbárie capitalista ou substituir o timoneiro? Construir formas coletivas de enfrentamento com participação de setores populares que possam qualificar a luta dos trabalhadores ou suplicar pela possibilidade de algum tipo de sobrevivência?

Não é difícil, entre os bem intencionados que justificam a defesa da face, aparentemente, mais pálida do neoliberalismo o aviltante argumento do “mal menor”. Pois bem, para combater esta desnutrida reivindicação, consolidada, certamente, nas últimas décadas de falência da estratégia democrático-popular no Brasil, chamamos Antonio Gramsci, histórico revolucionário italiano e tão mal utilizado pelos conciliadores reformistas que cultuam a ausência de reformas:

“Um mal menor é sempre menor que um subsequente possivelmente maior. Todo mal resulta menor em comparação com outro que se anuncia maior e assim até o infinito. A fórmula do mal menor, do menos pior, não é mais que a forma que assume o processo de adaptação a um movimento historicamente regressivo cujo desenvolvimento é guiado por uma força audaciosamente eficaz, enquanto que as forças antagônicas (ou melhor, os chefes das mesmas) estão decididas a capitular progressivamente, em pequenas etapas e não de uma só vez […]”

O “mal menor” constitui-se na escalada para o mal maior. É a armadilha ideológica para a rendição da classe trabalhadora, nenhuma organização que se reivindique ao lado dos trabalhadores pode fomentar o apassivamento servil da classe. Sublinhamos que não se trata de um debate forjado a partir de valores morais, mas sim na necessidade de evidenciar a decadência histórica de determinados posicionamentos. Para além de boas intenções e/ou débeis concepções políticas, é fundamental frisar que perspectivas deste tipo rebaixam o horizonte de luta, esvaziam as subjetividades, desqualificam os mecanismos de enfrentamento e deseducam os trabalhadores na mesma medida que intensificam, em diferentes formas, o domínio da classe dominante sobre os trabalhadores.

É neste sentido, que apanhamos como essenciais as candidaturas de Renata Regina em Minas Gerais, Helga Martins em Goiás, Vivi Motta no Paraná, Eduardo Serra no Rio de Janeiro, Gabriel Colombo em São Paulo, Jones Manoel em Pernambuco, Giovani Damico na Bahia, Chico Malta no Ceará, entre tantos outros Camaradas que se lançam nos demais pleitos para construir alternativas comprometidas com os interesses dos trabalhadores. E, no âmbito nacional, destacamos a candidatura à Presidência da República de Sofia Manzano, que de forma coletiva vem tensionando o processo eleitoral, ampliando o conteúdo do debate, tocando em questões incontornáveis para os trabalhadores e fomentando a organização entre os de baixo.

Estamos convencidos que o movimento pelo qual a classe em si constitui-se numa classe para si, necessariamente, não passa apenas por questões imediatas, envoltas entre vacilações e conciliações e pautadas pelo presentismo. Mas sim por mediações históricas que só podem emergir através da mobilização, da qualificação organizativa, da elevação de nossas pautas e do enfrentamento sem tréguas aos setores dominantes que vivem da exploração dos trabalhadores.

É importante que a nossa ação tática esteja ajustada sempre em movimento combinada com a nossa estratégia, mas nunca descolada do nosso horizonte com o risco de desviarmos de rota como tantos que naufragam para águas cada vez mais turvas. Neste momento de escalada fascista, de ameaças golpistas no Brasil e de aniquilamento dos mínimos direitos para os trabalhadores nunca foi tão importante construir perspectivas com independência para a classe trabalhadora.

Convenção Estadual do PCB-MG / Foto: Matheus Loureiro

Referência: GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere, Caderno 16, §25.

Ver: Lênin, em: Who is for alliances with the cadets?

Osvaldo Teodoro é professor da Rede Estadual de Minas Gerais, mestrando em educação pela Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e da Unidade Classista (UC).