{"id":74821,"date":"2020-09-02T13:42:31","date_gmt":"2020-09-02T13:42:31","guid":{"rendered":"https:\/\/www.poderpopularmg.org\/?p=74821"},"modified":"2020-09-02T14:30:42","modified_gmt":"2020-09-02T14:30:42","slug":"candidato-operario-negro-prefeitura-betim","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.poderpopularmg.org\/candidato-operario-negro-prefeitura-betim\/","title":{"rendered":"Um pr\u00e9-candidato oper\u00e1rio para prefeitura de Betim"},"content":{"rendered":"
\"\"Aos 70 anos, Jose Augusto Bernardes \u00e9 pr\u00e9-candidato a prefeito de Betim pelo PCB. Foto: Ana Vieira.<\/strong><\/h5>\n

Por Leonardo Godim para O Poder Popular MG<\/em>.<\/p>\n

O frio que se abateu sobre a cidade desde o final de semana ia dando tr\u00e9gua numa tarde de sol forte. Eu ainda estava digerindo a forte impress\u00e3o que tive das plantas da Fiat e da Refinaria Gabriel Passos, da Petrobras, na estrada de Betim, quando chegamos no nosso destino e fomos recebidos por Jos\u00e9 Augusto Bernardes, o camarada Zulu. Sua figura simples em poucas horas de conversa se converteu em uma impress\u00e3o ainda mais forte do que aquela da estrada. Sua hist\u00f3ria era um testemunho daquela terra e notei que sua grandiosidade ultrapassava qualquer refinaria, qualquer f\u00e1brica. Pois ele era testemunho da classe que tornou aquelas grandes constru\u00e7\u00f5es poss\u00edveis.<\/p>\n

Jos\u00e9 foi oper\u00e1rio durante quase toda sua vida. Fundou o Sindicato dos Metal\u00fargicos de Betim em 1979, em plena ditadura militar, e viu a fase ascendente das lutas populares no Brasil. Fundou e dirigiu associa\u00e7\u00f5es de moradores em Betim por muitos anos, como a da regi\u00e3o do PTB. Foi tamb\u00e9m militante ativo do movimento negro da regi\u00e3o e contava contente de sua trajet\u00f3ria de luta contra o racismo. \u201cOnde erramos? \u00c9 essa a pergunta que me pego tantas vezes tentando responder…\u201d, nos confidenciou. \u00c0s vezes, a vida de alguns indiv\u00edduos pode ser uma s\u00edntese de um cap\u00edtulo da hist\u00f3ria de toda uma classe. Era o caso de Zulu, em cuja perplexidade se resumiam embates e desafios que, pude compreender, minha gera\u00e7\u00e3o ter\u00e1 de elaborar melhores respostas do que aquelas que guiaram as gera\u00e7\u00f5es anteriores.<\/p>\n

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Zulu na fachada do espa\u00e7o cultural fundado por ele no bairro Niter\u00f3i, Betim. Foto: Ana Vieira.<\/h5>\n

Nosso ponto de encontro foi um espa\u00e7o cultural fundado e mantido por Zulu no bairro Niter\u00f3i. Instrumentos musicais pintados na parede davam um ar carnavalesco para aquele espa\u00e7o cultural em um bairro simples da industrial Betim. Al\u00e9m de sediar eventos, o espa\u00e7o era uma escola de m\u00fasica, com direito a um piano, \u00f3rg\u00e3o, percuss\u00f5es, viol\u00e3o e cavaquinho \u2013 ao que pude ver em minha curta visita. Curioso com o evidente amor pela m\u00fasica presente naquele espa\u00e7o, descobri outra face do oper\u00e1rio Zulu.<\/p>\n

Zulu \u00e9 m\u00fasico. M\u00fasico profissional, contou sobre o que era ser compositor na \u00e9poca da ditadura e mostrou seus arquivos, com letras e cifras carimbadas pelo Departamento de Censura de Divers\u00f5es P\u00fablicas. Buscou uma m\u00fasica sua que fora censurada,\u00a0 <\/span>mas n\u00e3o a achou em meio a seu vasto arquivo. Contou que chegou perto de abandonar a vida de oper\u00e1rio para dedicar-se \u00e0 m\u00fasica, mas viu que muitos grandes m\u00fasicos de nossa hist\u00f3ria n\u00e3o receberam durante a vida o reconhecimento necess\u00e1rio para garantir as contas da casa. Imaginou que se acontecia com seus \u00eddolos, com ele n\u00e3o seria diferente. E assim o Zulu m\u00fasico continou oper\u00e1rio, e lutando. Mas o amor pela m\u00fasica nunca minguou.<\/p>\n

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Zulu ainda possui os registros de m\u00fasicas carimbadas pela censura, a capa de um disco de vinil seu e cartazes de apresenta\u00e7\u00f5es. Foto: Ana Vieira.<\/h5>\n

Suas hist\u00f3rias quase sempre terminavam com a mesma nota de rodap\u00e9. \u201cVoc\u00ea v\u00ea como o povo trabalhador desse pa\u00eds sofre?\u201d Este fato estava marcado na sua exist\u00eancia. Mas seu reconhecimento disso n\u00e3o parecia o fazer temer. Pelo contr\u00e1rio. O fazia defender \u2013 e repetiu isso muitas vezes no nosso curto tempo l\u00e1 \u2013 que os comunistas tinham o dever de lutar com o povo trabalhador. Afirmava com autoridade que era entre os mais oprimidos da sociedade que nasceria o novo. Estava convencido que aqueles homens e mulheres simples com quem compartilha o sofrimento da barb\u00e1rie capitalista n\u00e3o tinham nada a perder al\u00e9m de suas correntes.<\/p>\n

Aos 70 anos, Jos\u00e9 Augusto Bernardes, Zulu, \u00e9 pr\u00e9-candidato a prefeito da cidade de Betim. Disse energeticamente, enquanto tir\u00e1vamos as fotos para a pr\u00e9-campanha, que os comunistas tinham o dever de n\u00e3o abaixar a cabe\u00e7a. Enquanto a fot\u00f3grafa pedia que ele sorrisse e deixasse de conversar, Zulu declarava seu comprometimento com os trabalhadores nessa elei\u00e7\u00e3o. Falou sobre as compras de voto, t\u00e3o comuns em Betim, e disse que nosso trabalho era mostrar aos trabalhadores que existia uma alternativa ao jogo sujo da pol\u00edtica brasileira. Entre seus causos e piadas, ele demonstrava uma seriedade tremenda. Pois sabe quais s\u00e3o os interesses dos trabalhadores, e sabe qu\u00e3o poderosos s\u00e3o seus inimigos. Maldizia os que traem os trabalhadores como quem, provavelmente, j\u00e1 viu isso se repetir in\u00fameras vezes. E do alto de sua sabedoria, anunciava: venceremos!<\/p>\n

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Em uma das paredes do espa\u00e7o cultura, uma bandeira da \u00c1frica foi pintada, com as v\u00e1rias nacionalides africanas e a divis\u00e3o do continente pelos pa\u00edses imperialistas. Para Zulu, a mem\u00f3ria \u00e9 uma grande arma dos oprimidos, e faz quest\u00e3o de estimular isso em seu trabalho de base. Foto: Ana Vieira.<\/h5>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

LEONARDO GODIM<\/p>\n","protected":false},"author":3,"featured_media":74822,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[79,180],"tags":[93,250,273,321,322,323,325,326,328],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.poderpopularmg.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/74821"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.poderpopularmg.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.poderpopularmg.org\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.poderpopularmg.org\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.poderpopularmg.org\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=74821"}],"version-history":[{"count":5,"href":"https:\/\/www.poderpopularmg.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/74821\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":74838,"href":"https:\/\/www.poderpopularmg.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/74821\/revisions\/74838"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.poderpopularmg.org\/wp-json\/wp\/v2\/media\/74822"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.poderpopularmg.org\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=74821"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.poderpopularmg.org\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=74821"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.poderpopularmg.org\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=74821"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}