{"id":74783,"date":"2020-08-25T12:45:36","date_gmt":"2020-08-25T12:45:36","guid":{"rendered":"https:\/\/www.poderpopularmg.org\/?p=74783"},"modified":"2020-08-25T15:20:13","modified_gmt":"2020-08-25T15:20:13","slug":"ensino-remoto-e-pandemia-um-no-que-jamais-foi-um-laco","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.poderpopularmg.org\/ensino-remoto-e-pandemia-um-no-que-jamais-foi-um-laco\/","title":{"rendered":"Ensino remoto e pandemia: um n\u00f3 que jamais foi um la\u00e7o"},"content":{"rendered":"

Ensino remoto e pandemia: um n\u00f3 que jamais foi um la\u00e7o<\/strong>1<\/a><\/sup>Fa\u00e7o alus\u00e3o ao poema intitulado \u201cO la\u00e7o e o abra\u00e7o\u201d, autoria de Maria Beatriz Marinho dos Anjos. Registrado na Biblioteca Nacional: 568 208 Dispon\u00edvel em: http:\/\/livroerrante.blogspot.com\/2018\/04\/o-laco-e-o-abraco-maria-beatriz-marinho.html<\/a> Acesso em: 24.08.2020.<\/span><\/p>\n

Osvaldo Teodoro dos Santos Filho<\/strong><\/p>\n

A presente crise do modo de produ\u00e7\u00e3o capitalista, agravado pela pandemia do novo coronav\u00edrus, que configura-se como uma das maiores crises da humanidade, tem produzido efeitos devastadores, sobretudo para a classe trabalhadora. Apesar de muitas afirma\u00e7\u00f5es caminharem no sentido de endossar uma suposta natureza democr\u00e1tica do v\u00edrus, o que \u00e9 poss\u00edvel constatar s\u00e3o os impactos, elevados at\u00e9 a \u00faltima pot\u00eancia, nas camadas mais subalternizadas dos trabalhadores. Portanto, quando essa afirma\u00e7\u00e3o n\u00e3o surge de forma ing\u00eanua, ela s\u00f3 pode ser notada atrav\u00e9s das lentes do cinismo.<\/p>\n

\u00c9 sob a \u00e9gide da obscuridade, em tempos imemor\u00e1veis, que somos obrigados, diariamente, a defender o \u00f3bvio2<\/a><\/sup>Fa\u00e7o alus\u00e3o a frase: \u201cque tempos s\u00e3o estes em que temos que defender o \u00f3bvio?\u201d, atribu\u00edda a Bertold Brecht.<\/span>. Nesse sentido, meses ap\u00f3s a constata\u00e7\u00e3o do primeiro caso de COVID-19 no Brasil, de mais de 114.000 3<\/a><\/sup>No dia 23 de agosto de 2020, os principais meios de comunica\u00e7\u00e3o informavam mais de 114.000 mortos no Brasil pela pandemia de COVID-19. Dispon\u00edvel em: https:\/\/g1.globo.com\/bemestar\/coronavirus\/noticia\/2020\/08\/23\/casos-e-mortes-por-coronavirus-no-brasil-em-23-de-agosto-segundo-consorcio-de-veiculos-de-imprensa.ghtml<\/a> Acesso em: 24.08.2020.<\/span> mortos\u00a0e uma m\u00e9dia di\u00e1ria superior a 900 mortes provocadas pela pandemia, nos vemos obrigados a refletir sobre a imin\u00eancia do retorno das aulas presenciais.<\/p>\n

Nas mais diferentes esferas da educa\u00e7\u00e3o, nos confrontamos com uma esp\u00e9cie de n\u00f3, que longe de ser um la\u00e7o, ainda, n\u00e3o sabemos como desat\u00e1-lo. Para tentarmos compreender as determina\u00e7\u00f5es desta amarra\u00e7\u00e3o e como esse n\u00f3 se apertou durante o per\u00edodo da pandemia, faz-se necess\u00e1rio seguirmos algumas pistas. Para tanto, nos apoiaremos nas formula\u00e7\u00f5es de M\u00e9sz\u00e1ros (2011). De acordo com o fil\u00f3sofo h\u00fangaro, de forma diferente de momentos passados nos quais existiam e foram ativadas as possibilidades de se mover as contradi\u00e7\u00f5es das bases da produ\u00e7\u00e3o capitalista, a partir da d\u00e9cada de 1970, o avan\u00e7o da composi\u00e7\u00e3o sociometab\u00f3lica do capital teria sido elevada aos seus \u201climites intr\u00ednsecos ou absolutos\u201d.<\/p>\n

M\u00e9sz\u00e1ros (2011, pp.796-797) afirma que esses limites n\u00e3o podem ser ultrapassados sem uma mudan\u00e7a no modo de controle predominante para um modo qualitativamente diferente. Seguindo o caminho pavimentado pelo autor, a atual crise \u201cafeta a totalidade de um complexo social em todas as rela\u00e7\u00f5es com suas partes constituintes ou subcomplexos, como tamb\u00e9m a outros complexos aos quais \u00e9 articulada\u201d. N\u00e3o teremos condi\u00e7\u00f5es aqui de adentrar nas determina\u00e7\u00f5es hist\u00f3ricas, nem an\u00e1lises mais profundas do atual modo produtivo, mas vale ressaltar, de acordo com Iasi (2017, p.67) que,
\nas determina\u00e7\u00f5es mais profundas da crise n\u00e3o podem ser resumidas nos fatores de mero subconsumo de um lado, nem mesmo da superprodu\u00e7\u00e3o isoladamente de outro, mas na combina\u00e7\u00e3o das duas no quadro de uma superacumula\u00e7\u00e3o que leva \u00e0 queda das taxas de lucro.<\/p>\n

Fazendo-se valer da sofisticada an\u00e1lise de M\u00e9sz\u00e1ros (2011), na constata\u00e7\u00e3o permanente de uma crise que afeta de forma articulada todas as partes do complexo em quest\u00e3o e que, de forma inversa a outros momentos, j\u00e1 n\u00e3o \u00e9 mais poss\u00edvel manejar as contradi\u00e7\u00f5es das bases da produ\u00e7\u00e3o capitalistas, na busca pelas amarra\u00e7\u00f5es do n\u00f3, tomaremos de empr\u00e9stimo o conceito de crise estrutural do capital.<\/p>\n

\u00c9 importante sublinhar que estamos propondo uma reflex\u00e3o sobre os caminhos da educa\u00e7\u00e3o em um per\u00edodo de crise estrutural das formas atuais de produ\u00e7\u00e3o e reprodu\u00e7\u00e3o da vida, no qual seus efeitos avassaladores foram amplificados pela pandemia. Dito isto, para que n\u00e3o se inverta os fatos, ressaltamos que para se desemaranhar qualquer n\u00f3, faz-se necess\u00e1rio acionar os cl\u00e1ssicos. Sendo assim, Marx e Engels (2017, p.27), ao se questionarem sobre as maneiras atrav\u00e9s das quais a burguesia consegue superar as crises, ainda que de forma moment\u00e2nea, v\u00e3o responder: \u201cDe um lado, pela destrui\u00e7\u00e3o violenta de grande quantidade de for\u00e7as produtivas; de outro, pela conquista de novos mercados e pela explora\u00e7\u00e3o mais intensa dos antigos\u201d.<\/p>\n

A destrui\u00e7\u00e3o das for\u00e7as produtivas ocorre, na sua forma mais substanciada, nas guerras, mas n\u00e3o somente. Apesar da agenda de guerra nos avizinhar, sobretudo, atrav\u00e9s dos ataques di\u00e1rios contra a soberania venezuelana4<\/a><\/sup>A Venezuela vem sofrendo sucessivas tentativas de golpes de Estado, capitaneadas pelos EUA e com apoio de outros pa\u00edses. Ver: https:\/\/theintercept.com\/2020\/05\/11\/golpe-fracasso-venezuela-eua\/<\/a> Acesso em: 24.08.2020.<\/span>, a destrui\u00e7\u00e3o das for\u00e7as produtivas ocorre gradativamente, principalmente em pa\u00edses perif\u00e9ricos. Podemos destacar, entre formas variadas, a a\u00e7\u00e3o terrorista da Pol\u00edcia Militar no Brasil que executa a popula\u00e7\u00e3o pobre e negra nos bairros populares em todas as regi\u00f5es do pa\u00eds5<\/a><\/sup>De acordo com relat\u00f3rio produzido pela Rede de Observat\u00f3rios da Seguran\u00e7a, negros s\u00e3o 75% dos mortos pela pol\u00edcia Brasil. Ver: https:\/\/noticias.uol.com.br\/ultimas-noticias\/agencia-estado\/2020\/07\/15\/negros-sao-75-dos-mortos-pela-policia-no-brasil-aponta-relatorio.htm<\/a> Acesso em: 24.08.2020.<\/span>.<\/p>\n

As conquistas de novos mercados e a intensifica\u00e7\u00e3o da explora\u00e7\u00e3o dos mercados existentes se verificam no Brasil a partir de uma s\u00e9rie de contrarreformas que desregularam o trabalho e os mecanismos previdenci\u00e1rios, a partir da pilhagem dos fundos p\u00fablicos, pela implementa\u00e7\u00e3o de um novo regime fiscal que limita os investimentos p\u00fablicos e abre espa\u00e7os para a iniciativa privada, ou seja, por uma s\u00e9rie de mecanismos que se afirmam atrav\u00e9s da espolia\u00e7\u00e3o dos trabalhadores e, por conseguinte, do aumento da extra\u00e7\u00e3o de mais valor. Vale destacar que nessa tentativa de configurar o Estado no sentido de superar as crises, h\u00e1 necessidade de um complexo ordenamento pol\u00edtico\/jur\u00eddico que p\u00f5e em xeque at\u00e9 mesmo as formula\u00e7\u00f5es liberais recorrentes, uma vez que o Estado se evidencia como um elemento essencial para a supera\u00e7\u00e3o das crises capitalistas.<\/p>\n

O que podemos constatar no presente \u00e9 a verifica\u00e7\u00e3o destas a\u00e7\u00f5es, n\u00e3o intercaladas ou sobrepostas, mas, articuladas em movimento, ou seja, relacionadas dialeticamente uma com as outras. \u00c9 no ponto da cria\u00e7\u00e3o de novos mercados e na intensifica\u00e7\u00e3o da explora\u00e7\u00e3o dos mercados existentes que destacamos a c\u00e9lere implementa\u00e7\u00e3o do ensino remoto e a s\u00fabita preocupa\u00e7\u00e3o com a educa\u00e7\u00e3o durante o per\u00edodo da pandemia. Organismos internacionais6<\/a><\/sup>Ver: Em defesa da educa\u00e7\u00e3o p\u00fablica comprometida com a igualdade social: porque os trabalhadores n\u00e3o devem aceitar aulas remotas. Colemarx, 2020 \u2013 Dispon\u00edvel em: http:\/\/www.colemarx.com.br\/wp-content\/uploads\/2020\/04\/Colemarx-textcr%C3%ADtico-EaD-2.pdf<\/a><\/span>, de modo instant\u00e2neo, como o Banco Mundial e a OCDE, competentes nas formula\u00e7\u00f5es de \u201cant\u00eddotos\u201d para os mais variados problemas da ordem capitalista, formalizaram uma s\u00e9rie de recomenda\u00e7\u00f5es para orientar os estados nacionais nas a\u00e7\u00f5es necess\u00e1rias para uma \u201cboa conduta\u201d do processo formal de ensino durante a pandemia. Entre essas recomenda\u00e7\u00f5es, destacamos: 1] revis\u00e3o dos marcos regulat\u00f3rios do ensino \u00e0 dist\u00e2ncia \u2013 diversos combinados de servi\u00e7os remotos devem ser chancelados como uma op\u00e7\u00e3o para o cumprimento da carga hor\u00e1ria m\u00ednima exigida; 2] flexibiliza\u00e7\u00e3o dos contratos, da organiza\u00e7\u00e3o e da disposi\u00e7\u00e3o do trabalho dos professores \u2013 o professor poder\u00e1 ser substitu\u00eddo por atores, m\u00fasicos, etc., ficando sobre a sua responsabilidade a elucida\u00e7\u00e3o de d\u00favidas e por eventuais contatos com os familiares atrav\u00e9s de dispositivos eletr\u00f4nicos; 3] aligeiramento da forma\u00e7\u00e3o de professores nos cursos de licenciatura, assim como flexibiliza\u00e7\u00e3o nos curr\u00edculos; 4] flexibiliza\u00e7\u00e3o e regulamenta\u00e7\u00e3o dos fundos p\u00fabicos na medida em que se possa utilizar esses recursos para a forma\u00e7\u00e3o de tutores e na formula\u00e7\u00e3o de alternativa para a forma\u00e7\u00e3o de professores.<\/p>\n

As recomenda\u00e7\u00f5es dos organismos internacionais se afirmam na dire\u00e7\u00e3o de escamotear o trabalho do professor e, de forma evidente, atrav\u00e9s do esvaziamento do sentido da escola. Nesta dire\u00e7\u00e3o, se evidencia a descartabilidade do professor durante esse processo, reduzindo-o a um vulgar entregador de tarefas e, de maneira desvelada, aprofunda-se a disputa pelos fundos p\u00fablicos com o objetivo de drenar recursos para as grandes corpora\u00e7\u00f5es privadas. \u00c9 importante ressaltar que, como mercadores, o Banco Mundial e a UNESCO ofertavam para diversos pa\u00edses uma lista de servi\u00e7os e produtos disponibilizados por diferentes funda\u00e7\u00f5es ou grupos empresariais. Entre esses grupos destacam-se a Google, Funda\u00e7\u00e3o Bill e Melinda Gates, Bank of America, Funda\u00e7\u00e3o Lemann e at\u00e9 uma ind\u00fastria farmac\u00eautica, a Novartis.<\/p>\n

Para n\u00e3o perdermos o \u201cfio de meada\u201d, cabe destacar a inser\u00e7\u00e3o do pa\u00eds na divis\u00e3o internacional do trabalho, ou seja, as fun\u00e7\u00f5es empreendidas pelo Brasil na mundializa\u00e7\u00e3o do capital conferem, ao longo da hist\u00f3ria, uma situa\u00e7\u00e3o de subordina\u00e7\u00e3o aos interesses de pa\u00edses imperialistas. Na atual fase produtiva de expans\u00e3o do capital financeiro e desindustrializa\u00e7\u00e3o dos pa\u00edses dependentes7<\/a><\/sup>Ver: https:\/\/www.bbc.com\/portuguese\/brasil-37432485<\/a> Acesso em: 24.08.2020.<\/span>, o Brasil, cada vez mais, limita-se a um papel de exportador de bens prim\u00e1rios e encontra-se entregue para a especula\u00e7\u00e3o financeira. Desse modo, a escola, para as massas, ainda que nas suas express\u00f5es mais rebaixadas, se afasta da sua dimens\u00e3o necess\u00e1ria no sistema produtivo.<\/p>\n

Sobre os efeitos mais diversos da crise estrutural do capital, hipertrofiados pela pandemia, a implementa\u00e7\u00e3o do ensino remoto, a toque de caixa nas mais diferentes localidades do pa\u00eds, entra em contradi\u00e7\u00e3o. As exig\u00eancias para a sua viabilidade n\u00e3o se conformam na vida dos alunos, professores e da sociedade em geral. Portanto, a correspond\u00eancia de seus ideais entra em choque com as condi\u00e7\u00f5es concretas da realidade. Entre algumas dessas contradi\u00e7\u00f5es, \u00e9 poss\u00edvel destacar: a] aus\u00eancia\/dificuldade de acesso aos meios tecnol\u00f3gicos no Brasil por parte significativa de estudantes e professores8<\/a><\/sup>Ver:https:\/\/g1.globo.com\/educacao\/noticia\/2020\/05\/26\/66percent-dos-brasileiros-de-9-a-17-anos-nao-acessam-a-internet-em-casa-veja-numeros-que-mostram-dificuldades-no-ensino-a-distancia.ghtml<\/a> Acesso em: 24.08.2020.<\/span>; b] a incapacidade do Estado de efetivar de forma satisfat\u00f3ria um sistema tecnol\u00f3gico capaz de atender rapidamente a demanda9<\/a><\/sup>Ver:https:\/\/www.brasildefato.com.br\/2020\/05\/04\/professores-pais-e-alunos-apontam-dificuldades-e-limitacoes-no-ensino-a-distancia<\/a>. Acesso em: 24.08.2020.<\/span>; c] press\u00e3o pela volta presencial das aulas de modo que as fam\u00edlias tenham onde deixar os seus filhos e que parte dos trabalhadores possam se apresentar para vender a sua for\u00e7a de trabalho10<\/a><\/sup>Ver:https:\/\/www1.folha.uol.com.br\/cotidiano\/2020\/06\/nas-periferias-de-sp-maes-voltam-ao-trabalho-sem-ter-com-quem-deixar-filhos.shtml<\/a> Acesso em: 24.08.2020.<\/span>; d] press\u00e3o entre as escolas privadas para a volta das aulas presenciais11<\/a><\/sup>Ver:https:\/\/www.correiobraziliense.com.br\/app\/noticia\/cidades\/2020\/07\/29\/interna_cidadesdf,876437\/carreata-pede-reabertura-de-escolas-particulares-de-educacao-infantil.shtml<\/a> Acesso em: 24.08.2020.<\/span>, dessa maneira, para fazer valer os altos custos de suas mensalidades e diminuir a migra\u00e7\u00e3o para o setor p\u00fablico12<\/a><\/sup>Ver:https:\/\/www.gazetadopovo.com.br\/parana\/alunos-escolas-particulares-migracao-rede-publica\/<\/a> Acesso em: 24.08.2020.<\/span>; e] insatisfa\u00e7\u00e3o geral da popula\u00e7\u00e3o com os resultados obtidos at\u00e9 o momento.<\/p>\n

Hoje, ap\u00f3s a manifesta\u00e7\u00e3o destas contradi\u00e7\u00f5es, presenciamos a tentativa de retorno, ainda que de forma gradual, para as aulas presenciais, sobretudo na educa\u00e7\u00e3o b\u00e1sica. O estado do Amazonas foi pioneiro em autorizar a volta \u00e0s aulas presenciais. Outros estados formaram conselhos com o objetivo de elaborar protocolos para viabilizar o retorno. Na medida em que os estados se movimentam para autorizar o retorno das aulas presenciais, professores, sindicatos e a comunidade escolar, de forma geral, evidenciam os riscos da contamina\u00e7\u00e3o e, por conseguinte, do crescimento do n\u00famero de mortes. Muitos familiares afirmaram que n\u00e3o ir\u00e3o encaminhar os alunos para a escola na aus\u00eancia de uma vacina. Eleva-se a indica\u00e7\u00e3o de poss\u00edveis greves, bem como outras medidas de enfrentamento que possam obstaculizar a predisposi\u00e7\u00e3o genocida do Estado13<\/a><\/sup>Ver:https:\/\/noticias.uol.com.br\/colunas\/chico-alves\/2020\/08\/02\/professores-estao-certos-em-resistir-a-voltar-as-escolas.htm<\/a> Acesso em: 24.08.2020.<\/span>. \u00c9 fundamental o destaque que a possibilidade do retorno ocorre em um momento em que os meios de comunica\u00e7\u00e3o informam uma m\u00e9dia di\u00e1ria de 985 mortes nos \u00faltimos sete dias14<\/a><\/sup>Ver:https:\/\/g1.globo.com\/fantastico\/noticia\/2020\/08\/23\/media-movel-de-mortes-por-covid-no-brasil-foi-de-985-nos-ultimos-sete-dias.ghtml<\/a> Acesso em: 24.08.2020.<\/span>. Desta forma, os indiv\u00edduos mais vulner\u00e1veis, ou seja, pertencentes \u00e0s popula\u00e7\u00f5es ou grupos sociais historicamente exclu\u00eddos e que, diariamente, tem o acesso negado aos servi\u00e7os de sa\u00fade, assim como idosos e pessoas com algum tipo de comorbidade, s\u00e3o descartados como parte previs\u00edvel de uma estat\u00edstica. \u00c0 vista disso, somos convidados a substituir a perplexidade por uma morte evit\u00e1vel, pela naturaliza\u00e7\u00e3o dos \u00f3bitos de determinados indiv\u00edduos. Nos convencem a trocar a revolta pelo descaso do Estado, pela normatiza\u00e7\u00e3o de uma contabilidade macabra, que surge, quase sempre, entre a previs\u00e3o do tempo e as not\u00edcias do esporte.<\/p>\n

Na afirma\u00e7\u00e3o da defesa do \u00f3bvio, ou seja, na prote\u00e7\u00e3o inconteste do direito \u00e0 vida, sobretudo dos trabalhadores, n\u00e3o podemos nos furtar da constata\u00e7\u00e3o do n\u00f3 que se formou durante a pandemia acerca da implementa\u00e7\u00e3o do ensino remoto. De acordo com Engels (2015, p.151):
\nEnquanto encararmos as coisas como inertes e inanimadas, cada uma para si, uma ao lado da outra e uma depois da outra, de fato n\u00e3o depararemos com as contradi\u00e7\u00f5es entre elas. Encontramos nelas certas propriedades \u2013 em parte comuns, em parte diferentes e at\u00e9 contradit\u00f3rias entre si \u2013, mas, nesse caso, distribu\u00eddas em coisas diferentes e, portanto, n\u00e3o contendo nenhuma contradi\u00e7\u00e3o em si. […] Por\u00e9m, tudo muda completamente de figura assim que examinamos as coisas em seu movimento, em sua mudan\u00e7a, em sua vida, na incid\u00eancia rec\u00edproca uma sobre as outras. Nesse caso, envolvemo-nos imediatamente em contradi\u00e7\u00f5es.<\/p>\n

Aqui evidenciamos um impasse, a fixa\u00e7\u00e3o do n\u00f3. Se por um lado, de imediato, resistir a volta das aulas presenciais se apresenta como uma necessidade na luta pela garantia do direito \u00e0 vida, no embate contra a naturaliza\u00e7\u00e3o da morte, de outro, corremos o risco de desamarrar o n\u00f3 em um sentido contr\u00e1rio aos interesses da classe trabalhadora, ou seja, de conformar o ensino remoto, de propiciar um tempo necess\u00e1rio para que esse modelo se ajuste, se afirme, dia ap\u00f3s dia, transfigurando-se de provis\u00f3rio para permanente. Desse modo, se aprofundar\u00e1 as desigualdades entre os estudantes, a precariza\u00e7\u00e3o, a superexplora\u00e7\u00e3o e a descaracteriza\u00e7\u00e3o do trabalho do professor, bem como, facilitar\u00e1 a drenagem de recursos p\u00fablicos para grandes corpora\u00e7\u00f5es capitalistas, consolidando e ampliando a cria\u00e7\u00e3o de um novo mercado.<\/p>\n

Destarte, n\u00e3o nos cabe compreender o retorno \u00e0s aulas presenciais e a perman\u00eancia do ensino remoto em contraposi\u00e7\u00e3o. O essencial nesse processo \u00e9 apanhar as contradi\u00e7\u00f5es, as novas conforma\u00e7\u00f5es do real em movimento e mediar as nossas formas de luta. De acordo com a poetisa, os la\u00e7os \u201cn\u00e3o prendem, n\u00e3o escravizam, n\u00e3o apertam, n\u00e3o sufocam\u201d, portanto, o ensino remoto \u00e9 um n\u00f3 que jamais foi um la\u00e7o. Nossa tarefa, ent\u00e3o, n\u00e3o \u00e9 tentar desatar o n\u00f3, mas cortar a corda, para que, de um jeito ou de outro, ela n\u00e3o nos sufoque.<\/p>\n

Osvaldo Teodoro dos Santos Filho \u00e9 professor de Hist\u00f3ria da rede b\u00e1sica estadual de Minas Gerais, militante do PCB e da Unidade Classista.<\/p>\n

Texto Revisado por: <\/strong>
\nNajla Gama Passos Silva: Pedagoga, mestra em educa\u00e7\u00e3o e militante do PCB.
\nTuani Guimar\u00e3es: Professora de sociologia da rede b\u00e1sica estadual de Minas Gerais, militante do PCB e da Unidade Classista.<\/p>\n

Refer\u00eancias:<\/strong>
\nENGELS, Friedrich. Anti-D\u00fchring: a revolu\u00e7\u00e3o da ci\u00eancia segundo o senhor Eugen D\u00fchring. Tradu\u00e7\u00e3o N\u00e9lio Schneider. 1 ed. \u2013 S\u00e3o Paulo: Boitempo, 2015.<\/p>\n

IASI, Mauro. A crise do capital: a era da hipocrisia deliberada. Pol\u00edtica, Estado e Ideologia na trama conjuntural. S\u00e3o Paulo: ICP, 2017.<\/p>\n

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto comunista. Manifesto Comunista; Teses de abril. Vlad\u00edmir Ilitch L\u00eanin: Com textos introdut\u00f3rios de Tariq Ali. \u2013 1 ed. S\u00e3o Paulo: Boitempo, 2017.<\/p>\n

M\u00c9SZ\u00c1ROS, Istv\u00e1n. Para al\u00e9m do capital: rumo a uma teoria da transi\u00e7\u00e3o. Tradu\u00e7\u00e3o Paulo Cezar Castanheira, S\u00e9rgio Lessa. – 1.ed. revista. – S\u00e3o Paulo: Boitempo, 2011.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

OSVALDO TEODORO DOS SANTOS FILHO<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":74785,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[172,180],"tags":[90,244,314],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.poderpopularmg.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/74783"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.poderpopularmg.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.poderpopularmg.org\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.poderpopularmg.org\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.poderpopularmg.org\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=74783"}],"version-history":[{"count":8,"href":"https:\/\/www.poderpopularmg.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/74783\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":74792,"href":"https:\/\/www.poderpopularmg.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/74783\/revisions\/74792"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.poderpopularmg.org\/wp-json\/wp\/v2\/media\/74785"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.poderpopularmg.org\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=74783"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.poderpopularmg.org\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=74783"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.poderpopularmg.org\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=74783"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}