{"id":74214,"date":"2019-04-03T13:14:44","date_gmt":"2019-04-03T13:14:44","guid":{"rendered":"https:\/\/www.poderpopularmg.org\/?p=74214"},"modified":"2019-04-08T20:56:53","modified_gmt":"2019-04-08T20:56:53","slug":"abril-em-memoria-a-luta-do-campo","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.poderpopularmg.org\/abril-em-memoria-a-luta-do-campo\/","title":{"rendered":"ABRIL EM MEM\u00d3RIA: A LUTA DO CAMPO"},"content":{"rendered":"

Daniella S. S. N\u00e9spoli*<\/p>\n

A mem\u00f3ria enquanto um exerc\u00edcio de reconhecimento do passado e de aproxima\u00e7\u00e3o com a realidade presente, nos possibilita a desmistifica\u00e7\u00e3o de tentativas ideol\u00f3gicas de nega\u00e7\u00e3o dos fatos hist\u00f3ricos. Vivemos em um tempo de manipula\u00e7\u00e3o das verdades, nesse sentido recuperar a mem\u00f3ria \u00e9 um ato de resist\u00eancia ao apagamento hist\u00f3rico dos processos de luta que estruturam a forma\u00e7\u00e3o da nossa sociedade brasileira.\u00a0Nessa perspectiva, coloca-se aqui a import\u00e2ncia de recuperar a mem\u00f3ria de luta e resist\u00eancia dos povos do campo no Brasil, em um m\u00eas marcado pela viol\u00eancia cometida pelo Estado no \u201cMassacre de Eldorado dos Caraj\u00e1s\u201d, em que ocorreu, no dia 17 de abril de 1996, o assassinato de dezenove sem-terra no munic\u00edpio de Eldorado do Caraj\u00e1s, no sul do Par\u00e1.<\/p>\n

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Segundo dados e informa\u00e7\u00f5es sobre conflitos no campo, registrados pela Comiss\u00e3o Pastoral da Terra, o \u00edndice de assassinatos acometidos contra povos do campo (Sem \u2013 terra, assentados, \u00edndios, quilombolas, pescadores e lideran\u00e7as) em compara\u00e7\u00e3o aos n\u00fameros registrados de 2004 a 2014, praticamente duplicou no ano de 2015, 2016 e 2017, ou seja, a viol\u00eancia e o massacre contra os povos do campo nesses \u00faltimos anos aumentou em 100%.<\/p>\n

Mediante a uma conjuntura de retrocessos no campo das pol\u00edticas sociais, no desmonte dos direitos humanos e na ostenta\u00e7\u00e3o da intoler\u00e2ncia e do autoritarismo, se faz preciso uma leitura de realidade que evidencie como o discurso de ordem dos interesses da sociedade burguesa tem definido e fomentado este quadro de viol\u00eancia. N\u00e3o podemos esquecer que durante a instaura\u00e7\u00e3o do regime militar em 1964 este quadro se intensificou, as principais lideran\u00e7as foram presas, jogadas \u00e0 clandestinidade e assassinadas, ocasionando uma desarticula\u00e7\u00e3o das lutas em curso mas n\u00e3o o seu desaparecimento, que ao contr\u00e1rio, em resposta a opress\u00e3o tomaram for\u00e7as como resist\u00eancias isoladas, reorganizando em ritmos diferenciados de forma que no final da d\u00e9cada de 1970 os trabalhadores do campo surgem como atores principais da redemocratiza\u00e7\u00e3o do pa\u00eds.<\/p>\n

O Partido Comunista Brasileiro (PCB) desde 1922 busca uma proposta de alian\u00e7a entre oper\u00e1rios e camponeses. As mem\u00f3rias de militantes como Greg\u00f3rio Bezerra, Jos\u00e9 Pureza, Br\u00e1ulio Rodrigues da Silva, Irineu Luis de Moraes e Lyndolpho Silva marcam esses momentos iniciais desta articula\u00e7\u00e3o e tamb\u00e9m do esfor\u00e7o e dificuldades encontradas na elabora\u00e7\u00e3o de uma linguagem comum entre as linhas de a\u00e7\u00e3o do partido em di\u00e1logo com as demandas cotidianas dos trabalhadores do campo. Foi na capital mineira que ocorreu o Congresso Campon\u00eas de Belo Horizonte de 1961, a reivindica\u00e7\u00e3o do acesso \u00e0 terra tornara-se um tema p\u00fablico que n\u00e3o podia mais ser ignorado. Logo em 1962 foi regulamentado o direito de sindicaliza\u00e7\u00e3o dos trabalhadores do campo e aprovado o Estatuto do Trabalhador Rural.<\/p>\n

Os massacres e crimes cometidos contra as organiza\u00e7\u00f5es de luta do campo marcam historicamente, durante s\u00e9culos, as rela\u00e7\u00f5es pol\u00edticas, sociais e econ\u00f4micas da sociedade brasileira, sendo ainda cotidianamente presentes em pleno s\u00e9culo XXI. Desde Palmares, Canudos, Contestado e Ambr\u00f3sio, a resist\u00eancia campesina se coloca como uma mem\u00f3ria importante para a constru\u00e7\u00e3o da consci\u00eancia hist\u00f3rica da popula\u00e7\u00e3o do campo enquanto classe trabalhadora. A luta pela terra expressa a potencialidade da organiza\u00e7\u00e3o coletiva em prol de uma sociedade mais justa e igualit\u00e1ria, a partir de um sistema econ\u00f4mico de redistribui\u00e7\u00e3o da riqueza e dos meios de produ\u00e7\u00e3o. S\u00e3o organiza\u00e7\u00f5es que se afirmaram sujeitos pol\u00edticos, sociais, culturais e \u00e9ticos de pensamentos saberes, mem\u00f3rias e identidades constru\u00eddos a partir da resist\u00eancia aos padr\u00f5es de poder, domina\u00e7\u00e3o e subalterniza\u00e7\u00e3o, sendo ent\u00e3o, os movimentos de luta pela terra um dos principais alvo de governos autorit\u00e1rios que buscam criminalizar, exterminar, organiza\u00e7\u00f5es potentes de resist\u00eancia a domina\u00e7\u00e3o e opress\u00e3o do capital.<\/p>\n

O projeto de reforma agr\u00e1ria popular tem apontado caminhos importantes para a consolida\u00e7\u00e3o de um novo modelo de organiza\u00e7\u00e3o da sociedade brasileira, em que a distribui\u00e7\u00e3o da riqueza, o respeito a diversidade entre povos e culturas e tamb\u00e9m ao meio ambiente tem evidenciado a funcionalidade de uma nova estrutura\u00e7\u00e3o das rela\u00e7\u00f5es produtivas, em oposi\u00e7\u00e3o radical ao modelo vigente de crescimento e ac\u00famulo de riquezas do capital. Em um contexto de crise do sistema mundial capitalista, este projeto luta se coloca como uma possibilidade de enfrentamento estrutural no colapso das sociedades modernas, no acirramento das lutas de classe e na proposi\u00e7\u00e3o<\/em> de novos horizontes para o socialismo.<\/p>\n

*Daniella S.S N\u00e9spoli \u00e9 assistente social da Universidade Federal do Tri\u00e2ngulo Mineiro (UFTM), artista e pesquisadora da tem\u00e1tica “Luta e resist\u00eancia quilombola”.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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